sábado, 3 de maio de 2008

Porque queres ser Mondeguina

Esta é uma das perguntas que normalmente se fazia a quem à 3ª e 5ª aparecia pela Casa da Cultura para fazer uma audição. Era e ainda é este o 1º passo. A partir daí começa toda uma caminhada por vezes atribulada e difícil, cheia de obstáculos para ultrapassar. Outras vezes mais serena com uma cadência regular tal qual o som de um bombo ou de uma pandeireta a ditar o ritmo da próxima música.

E as respostas à pergunta inicial não variavam muito… “quero entrar para as Mondeguinas porque gosto de cantar, porque gosto de música.”

“Tens a certeza? Não vens para aqui para poderes beber uns copos e conhecer uns gajos?” – perguntava eu quase sempre em tom mais ou menos de brincadeira.

Ouvi mais tarde alguém fazer as mesmas perguntas e sorri…a intenção era mesmo essa, saber se realmente a paixão que as fazia percorrer aquela rua íngreme até à Casa da Cultura todas as 3ªs e 5ªs era, de facto, a Música.

Foi por ela – a Música – que este grupo se formou. Foi por esta paixão, por este gosto de cantar e tocar que um dia uma dezena e meia de raparigas se juntou e deu corpo e alma a um grupo. Fizemos isso conscientes que estaríamos a desafiar, que seríamos uma alternativa ao nada que existia, que seríamos inovadoras, que seríamos independentes, e que por tudo isso marcaríamos a diferença.

Demos literalmente o corpo pela música: bolhas nos dedos de tantos bordões tocar na guitarra, horas a fio a trinar a mesma melodia até acertar, fífias atrás de fífias para tocar certinha aquela nota difícil de alcançar na flauta, horas extra em laboratórios para aprender um instrumento, horas de ensaio à chuva ou ao frio …. Sim… muitos ensaios foram inicialmente ao ar livre, repetições atrás de repetições da mesma linha melódica até que ficasse bem assimilada… E tudo isso valia a pena!

A alma estava ali… em cada nota aprendida de forma sofrida e suada. E a nossa música ganhava corpo e alma.

E a esta dezena e meia de raparigas outras se foram juntando. Dia após dia, mês após mês, ano após ano. Meninas mulheres que juntas riram, choraram, cantaram, viveram momentos inesquecíveis, viveram momentos de tensão, de amor e desilusão – porque sempre foi assim e sempre assim será, tal como na vida real. E este é um grupo real, feito de pessoas reais.

Criam-se laços, partilham-se cumplicidades e nascem amizades. Aprende-se muito neste grupo de gente real, de gente com uma paixão comum. Não se cria uma amizade estreita com todas porque isso é irreal, mas o respeito por quem começou e por quem dá continuidade a esta paixão deve permanecer ao longo dos anos.

E continua a ser isso que nos faz viajar kms um ou duas vezes por ano para reencontrarmos quem um dia partilhou connosco essa paixão… rever caras e receber abraços… trocar novas ou velhas histórias…cantar velhas melodias … e conhecer as novas caras, as novas histórias, as novas melodias… e é compensador quando isso acontece. Não há cansaço de um dia de trabalho que impeça de viver esses momentos… porque valem sempre a pena!

E desde o 1º aniversário houve sempre esse sentimento de partilha, de convívio, de acolhimento a quem regressava por breves momentos e voltaria a partir dali a instantes mas com novas recordações na bagagem.

15 Anos é uma data surreal para quem, e falo por mim, cantou pela 1ª vez nos degraus de uma escada numa tarde quente de Junho.

Se me perguntassem há 15 anos se achava que este grupo teria força para se manter ao longo deste tempo, diria que não acreditava porque tudo tem um tempo para acontecer e para durar – tal como o malmequer que nos acompanhava em cada actuação. Durava enquanto essa actuação durasse. No final da noite já estava murcho. Ficavam apenas as recordações de mais uma actuação, dos momentos passados e dos laços criados.

Mas ainda bem que me enganei.

E eu engano-me muitas vezes. Não acerto no bordão à 1ª, não acerto na nota que canto, não acerto nas palavras, não acerto muitas vezes nas atitudes, mas uma coisa tenho como certo: é o amor e o carinho que sinto por cada uma de vós, o orgulho que tenho de vós como Mulheres, como Companheiras, como Mães, como Profissionais, como Estudantes.

Não consigo descrever tudo isso em palavras… por isso constantemente vos digo de viva voz: Já vos disse hoje que vos amo? Já vos disse que gosto muito de vós?

E hei-de dizê-lo sempre porque, e podendo ser lamechas, quero dizê-lo para que o saibam e o sintam. E correndo o risco se ser chata, sim porque sei que o sou….o digo mais uma vez:

Amo-vos! Sem distinção hierárquica.
Amo-vos porque ainda me conseguem aturar.
Amo-vos porque me deixais fazer parte das vossas vidas.
Amo-vos porque me dais alento e secais minhas lágrimas quando preciso.
Amo-vos porque me dais a honra de partilhar momentos especiais da vossa vida.
Amo-vos porque tenho em vós uma segunda família.
Amo-vos porque sereis sempre as minhas meninas…


Obrigada.

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